domingo, 17 de outubro de 2010

Reforma universitária e Universidade Nova: histórico

O projeto de reforma universitária não se configura como uma estratégia recente de mudança do modelo de ensino na educação superior e não se restringe à realidade brasileira. Historicamente, muitos modelos já foram implementados e derrocados, em função dos interesses das classes que chegaram à dominância no Brasil e no mundo.

A partir da segunda metade do século XX, a concepção de universidade destinada a um projeto de desenvolvimento nacional, sendo esse um projeto nacional burguês de desenvolvimento, ganhou força entre o setores progressistas brasileiros. Nesse sentido, a produção de conhecimento deveria justificar tal modelo, bem como colaborar com ele para a produção de novas tecnologias. Essa universidade, pensada pela burguesia liberal, não era nada libertadora, pelo contrario, concentrava o poder nas mãos da burocracia acadêmica, a qual estava fortemente atrelada aos interesses das classes dominantes. Nessa lógica, nem os estudantes e nem a classe trabalhadora participavam das decisões, sendo objeto do modelo para atender as necessidades de mão de obra especializada.

Com o advento da Ditadura Militar, a hegemonia da burguesia liberal sede lugar ao novo modelo de aliança das classes dominantes, fortemente monopolista e subjugado aos interesses estadunidenses. Os militares implementaram um novo projeto de universidade, não mais voltado ao desenvolvimento nacional, mas para fornecer recursos humanos subordinados ao governo autoritário vigente. Aumenta-se de forma significativa a entrada de estudantes da classe trabalhadora na universidade, bem como a sua busca de ascensão social, e de forma paralela, cresce a repressão no âmbito da universidade em mesma proporção a diminuição da sua elitização.

A ditadura militar declina e ganha força a lógica neoliberal de mercado. A universidade, como não poderia deixar de ser, acompanha a nova direção dos ventos e enverga-se aos pilares dos governos neoliberais, que se revelam pelo descaso ao ensino superior, acompanhado de nova ascensão da burocracia acadêmica (quase esquecida, coitada, em meio aos fardados). Essa burocracia muito se fortalecia com o arrocho dos recursos governamentais para a universidade, pois a cada corte no orçamento, mais se abria o campo para captação de recursos no mercado. Cresce a aliança entre universidades e capital privado, sendo esta reproduzida nos dias atuais, através de corporações particulares que usam dessas instituições para capacitar seu quadro de funcionários e gerentes.

A reforma universitária que conhecemos hoje, apresentada pelo governo Lula, vem para dar continuidade ao projeto iniciado na Ditadura Militar. Diminui-se ainda mais os recursos públicos destinados as Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), de modo a acelerar o seu processo de destruição e incentivar a ascensão dos modelos de universidade atrelados ao capital privado e sem nenhum compromisso com quaisquer projetos de cunho nacional. A reforma universitária, no entanto, ainda se mostrava incompleta diante dos interesses dos grandes grupos financeiros e transnacionais. Não bastava a diminuição de verbas e o financiamento do capital privado – era preciso uma ideologia justificadora e proposições bem definidas.

É nesse contexto e para suprir essa demanda de classe, que surge o projeto da Universidade Nova. O que os grupos financeiros precisavam era de um modelo de universidade que criasse uma mão-de-obra qualificada e flexibilizada para atender ao mundo do trabalho; e principalmente a formação de um contingente de desempregados que pudessem promover a queda de salários, no intuito de atrair investimentos estrangeiros. O ensino continuaria a ser financiado pelo Estado, mas a pesquisa (de onde o dinheiro brota) passaria aos centros de excelência financiados pelo capital privado.
Mariana Prates, 2o semestre
Baseado no texto "Universidade Nova: quem ganha com este projeto?", de Daniel Caribé

2 comentários:

Núbia disse...

Sou caloura de ciso, passei aqui por curiosidade e me surpreendi com o texto, muito bom! Estamos juntos na luta compas!

Gão disse...

Que texto lindo, meu amor! Só poderia ter vindo de você! Te amo!!